sábado, 18 de junho de 2011

Condicionamento físico de cães atletas - Parte 2



Fortalecimento
A força muscular pode ser definida como a capacidade de um músculo ou grupo muscular de gerar tensão e uma força resultante. A força muscular é muito importante para cães de corrida. A força está intimamente relacionada à velocidade, como nos Greyhounds de corrida, que são muito fortes e podem alcançar uma velocidade de até 70km/h. O hormônio do crescimento pode aumentar a massa muscular em cães.


Exercícios
Os exercícios de fortalecimento muscular se baseiam em alguns princípios básicos gerais, como o da especificidade e da sobrecarga.


- Princípio da especificidade: se refere à necessidade de treinamento dos sistemas do corpo usados durante uma atividade esportiva. Esse princípio aplicado no fortalecimento muscular visa o fortalecimento e treinamento dos grupos musculares responsáveis por uma ou várias ações necessárias para que o exercício seja realizado. O programa de fortalecimento deve ser específico para cada cão, direcionado ao tipo de atividade muscular necessária para a execução do exercício que o cão faz. Vamos dar um exemplo de um cão atleta que participa de competições de frisbee. Esse cão, em particular, acelera rapidamente em linha reta, salta, desacelera, vira-se, novamente inicia uma corrida e pula sobre um obstáculo. Então, para esse cão, o plano de fortalecimento dos membros pélvicos deve ser feito para aumentar a aceleração da corrida e o impulso do salto. Já o programa para seus membros torácicos será direcionado para aumentar a capacidade de desacelerar e girar o corpo.


Frisbee com cães
Cão praticando frisbee


- Princípio da sobrecarga: é o fator mais importante no programa de treinamento. O princípio diz que para aumentar a força (ou a resistência), deve-se empregar uma carga excedente à capacidade metabólica dos sistemas muscular e cardiorrespiratório durante o exercício. Esses sistemas devem ser exercitados até que cheguem à fadiga, para que se alcance uma melhor performance esportiva. 


Os exercícios de fortalecimento incluem trote, trote em superfície inclinada, brincadeiras controladas usando bolas, puxar pesos ou carroças, galope, natação, dança, recuperação e carrinho de mão. Atividades de velocidade incluem a aceleração e desaceleração rápidas em aclives e declives, brincadeiras com bolas e até brincadeiras e corridas com outros cães.


Natação

Resistência
A resistência é extremamente importante para cães atletas que fazem atividades de esforço prolongado, como o pastoreio. Os exercícios aeróbicos de resistência geralmente exercitam os grande grupos musculares por mais do que 15 minutos, e são realizados várias vezes por semana. A atividade aeróbica é responsável pelo aumento (a longo prazo) da oxigenação e vascularização dos tecidos musculares; e também pela perda de peso. Também nesses atletas se observam outras mudanças, como a diminuição da frequência cardíaca em repouso e aumento da capacidade de volume cardíaco, o que resulta em diminuição da pressão sanguínea em repouso, entre outras melhoras. 
Todos esses fatores contribuem para um melhor desempenho esportivo. O treinamento também deixa mais fortes os ossos, músculos e tendões; e aumenta a resistência dos ligamentos e das cartilagens. 

Se o cão não tiver fatores como obesidade e deformidade nos membros, por exemplo, a atividade física não irá predispor à osteoartrose. Para o treinamento de resistência são usados o trote, a natação, esteira aquática ou terrestre e tração. 


Esteira aquática

Equilíbrio e Propriocepção
As atividades físicas melhoram o equilíbrio e a propriocepção. O equilíbrio é a capacidade de adaptação durante a locomoção ou estação, sendo que também está relacionado ao ajuste na mudança de direção ou de superfícies. A propriocepção é a percepção inconsciente do movimento e da orientação espacial gerada pelo corpo. Para um melhor desempenho nas atividades do cão atleta, a propriocepção e o equilíbrio devem estar aprimorados. O treinamento proprioceptivo pode ser feito com caminhadas em círculo ou em 8 e atividades de transposição de objetos de diferentes tamanhos e formatos. Os exercícios de equilíbrio são os que exigem uma resposta rápida à mudança de inclinação, como trampolim, natação e prancha de equilíbrio. 


Gangorra de agility

Outras atividades de equilíbrio e agilidade incluem transposição de cavaletes, mudanças rápidas de direção durante o trote ou galope, exercícios com bola terapêutica, dança, carrinho de mão, cabo-de-guerra e brincadeiras controladas com bolas. 


Brincadeira controlada com bola

Outro ponto muito importante no plano de condicionamento físico é o repouso. O repouso auxilia na prevenção da fadiga muscular e de lesões por uso excessivo. Entretanto, quando o cão está condicionado, as pausas para repouso são diminuídas, além de ser responsável pela redução das taxas de ácido lático circulante ao término de atividades musculares intensas. 
Além disso, o condicionamento físico previne a síndrome da rabdomiólise, que ocorre pelo acúmulo de íons hidrogênio no tecido muscular durante o exercício; edema e isquemia musculares; morte de hemácias localizadas nos tecidos musculares; mioglobinúria e insuficiência renal. Essa doença é mais comumente observada após exercício intenso e em cães com pouco condicionamento físico.


domingo, 5 de junho de 2011

Condicionamento físico de cães atletas - Parte 1

Retirado do livro Reabilitação e fisioterapia na prática de pequenos animais, dos autores Levine, D. et al.


O condicionamento físico pode ser definido como o processo de preparo físico e mental para a realização de uma atividade física intensa. Um cão atleta bem condicionado e treinado requer um proprietário, treinador ou tratador comprometidos com o programa de condicionamento bem definido. O treinamento cardiovascular e musculoesquelético são partes fundamentais do programa. O treinamento também é importante, pois ensina o cão atleta as especificidades de cada atividade esportiva, também influenciando no comportamento do animal.

O condicionamento inicia precocemente na vida de um cão atleta, porém exercícios intensos são contra-indicados quando filhotes, porque as epífises ósseas ainda estão abertas. Cada tipo de cão tem um período diferente de fechamento das epífises. Antes do fechamento das epífises, o condicionamento se restringe a brincadeiras e atividades voluntárias (corridas e caminhadas).


É importante que o animal seja testado ou que tenha sua família analisada, para evitar que doenças exacerbem, como a displasia coxofemoral. O condicionamento propriamente dito se inicia na puberdade, quando os hormônios andrógenos surgem, pois são importantes para o desenvolvimento muscular.


Alimentação
Outro ponto chave no condicionamento de cães atletas é a nutrição. Ela deve ser balanceada e completa, com ingredientes de qualidade, de preferência ração super premium. É importante para manutenção e crescimento do cão atleta. Durante o período de exercícios intensos, os cães não devem ser alimentados. O esvaziamento gástrico é atrasado em mais de 1 hora pelos exercícios quando o cão é destreinado.
A hidratação é de suma importância, devendo ser fornecida água de qualidade à vontade, principalmente em ambientes mais quentes.


Sistema cardiovascular
Durante a realização de exercícios físicos, ocorre um aumento na frequência cardíaca e na pressão arterial. Com o tempo, também ocorre aumento de hemácias no sangue. A frequência cardíaca é maior em cães obesos sendo exercitados do que em cães com peso normal. Com o tempo, o treinamento leva à adaptação do sistema cardiovascular. Estudos em humanos atletas revelaram uma diminuição da frequência cardíaca quando a pessoa está em repouso. Esse fato é particularmente observado durante o treinamento de resistência, mas também se apresenta como resposta ao treinamento de fortalecimento.

Testes de preparo
A resistência e adaptação ao exercício são avaliadas por meio de corrida em esteira, testes de caminhada com duração de 6 minutos ou pela performance física do cão durante atividades em espaço aberto como gramado, campo ou pista.



Início do condicionamento físico
Durante a montagem de um plano de treinamento, é feita a escolha da frequência, intensidade e duração dos exercícios. A frequência é definida como o número de ciclos de exercício em um período de tempo (por sessão, dia ou semana). Em excesso podem ter impacto negativo no treinamento, irritar uma condição existente ou causar uma lesão, por causa do repouso insuficiente, a fadiga muscular ou cardiovascular excessiva, ou do estresse colocado sobre os tecidos durante a atividade. Não existem descrições científicas sobre os parâmetros ideais de exercícios de condicionamento físico e manutenção de cães atletas. O programa será feito especificamente para o seu cão, por um médico veterinário capacitado.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Escaras de decúbito

As escaras de decúbito são muito comuns em pacientes com problemas ortopédicos e neurológicos. É um problema que nos deparamos frequentemente, e muitas vezes os proprietários não sabem como agir ao ver o cão sofrer com as escaras. Abaixo vou colocar uma explicação resumida sobre as escaras de decúbito, que tirei do livro Reabilitação e Fisioterapia na Prática de Pequenos Animais, dos autores Levine, D. et al.


As úlceras de decúbito em pacientes veterinários estão relacionadas a alta morbidade e altos custos para o proprietário. Geralmente, as úlceras de decúbito são geradas pela aplicação prolongada de pressão sobre a pele que recobre uma proeminência óssea, resultando em um tecido isquêmico local ou regional. A progressão dessas úlceras é influenciada por outros fatores, como umidade, fricção e cortes. Algumas doenças como paralisias, doenças vasculares, doenças metabólicas (diabetes ou hiperadrenocorticismo) e desnutrição, podem aumentar o risco de desenvolvimento das úlceras de decúbito. 

Na medicina veterinária, observa-se que a maioria dos casos está relacionada a pacientes com dificuldades locomotoras ou muito debilitados. Os cães obesos e de grande porte são mais suscetíveis ao desenvolvimento de úlceras de decúbito, pelo maior peso corporal.

As localizações anatômicas mais comumente afetadas pelas úlceras de decúbito são:
- MEMBROS PÉLVICOS: trocanter maior (articulação coxofemoral), tuberosidade isquiática (no quadril, perto do ânus), calcâneo (calcanhar), maléolo lateral da tíbia (tornozelo) e face lateral do quinto dedo.


- MEMBROS TORÁCICOS: acrômio (ombro), olécrano (colovelo), epicôndilo lateral do úmero (colovelo), face lateral do quinto dedo.


Prevenção
O reconhecimento dos fatores de rico é o primeiro passo a ser tomado para a prevenção do desenvolvimento das úlceras. Pacientes com limitação da mobilidade (em particular os cães de grande porte), tem alto potencial para desenvolver as escaras (ou úlceras de decúbito).
O mais eficiente para a prevenção é o leito correto, que deve ser macio (de preferência colchão de ar de uso veterinário). Deve-se virar o paciente de lado, a cada duas horas, e a pele deve ser mantida limpa e seca.
A avaliação das condições da pele devem fazer parte de uma rotina diária. A identificação e monitoração nas fases iniciais resultam em uma cicatrização mais rápida e efetiva. Os pelos devem ser cortados, pois retém umidade (urina e fezes) e camufla a real situação da pele, retardando o início das medidas preventivas ou o tratamento. Assim que a lesão for identificada, deve ser classificada e descrita. Mensurar a escara com fotos diárias ajuda a observar a progressão ou regressão das escaras de decúbito.

Tratanento
Deve ser feito o debridamento de todas as escaras (remoção dos tecidos inviáveis). Esse processo acelera a cicatrização pois cria um ambiente livre de infecções e tecidos necrosados. Após o debridamento, a ferida irá cicatrizar por segunda intenção.
Vários medicamentos tópicos apresentam efeitos potenciais na cicatrização, principalmente quando aplicados durante a fase inflamatória do processo cicatricial. Se houver infecção, será necessário iniciar uma antibioticoterapia. Úlceras mais avançadas podem precisar de reconstrução cirúrgica.
Independente do tipo de tratamento escolhido, a ferida deve ser mantida livre da ação de forças. Proteger a ferida contra a umidade, microrganismos, pressão, cortes e fricção é essencial para obter bons resultados.
Na fisioterapia, o tratamento de feridas de decúbito é essencial no programa de reabilitação.