A necrose asséptica da cabeça femoral (NACF) é uma necrose asséptica não inflamatória da cabeça e colo femorais, mais comum em cães de pequeno porte. Ocorre em animais jovens, antes do fechamento da linha de crescimento do osso. É mais comum em raças como Yorkshire Terrier e Poodle toy.
A causa da NACF não foi estabelecida, mas há algumas teorias, como interferência hormonal, fatores hereditários, conformação anatômica e pressão intracapsular (YOTSUYANAGI et al, 2009).
Cabeça femoral de uma cadela da raça Yorkshire Terrier, com NACF, logo após a excisão cirúrgica (NETTO, THIAGO RAMOS, 2010) |
Os cães acometidos exibem atrofia muscular, encurtamento do membro acometido, dor ao movimento passivo da articulação do quadril e, em alguns casos, crepitação da ACF. Frequentemente há atrofia dos músculos glúteos e quadríceps (músculos da coxa) (PIERMATTEI e FLO, 1999; ETTINGER e FELDMAN, 2004).
Também são observados sinais como claudicação (quando o cão manca) e limitação na amplitude de movimento, e os sinais variam em intensidade para cada paciente. Abdução, flexão e rotação interna da articulação coxofemoral diminuem. Geralmente, a claudicação dos animais afetados vai piorando gradualmente (YOTSUYANAGI et al, 2009).
Diagnóstico:
Além dos sinais clínicos exibidos, o diagnóstico da NACF é confirmado por exame radiográfico da ACF, especialmente em incidência ventrodorsal. Os sinais radiográficos na cabeça femoral só são evidentes depois que a reabsorção vascular do osso necrosado tiver começado (NUNAMAKER, 1985). São observados como áreas mais escuras na cabeça femoral.
Tratamento:
A excisão da cabeça e colo femorais produz resultados mais favoráveis do que o tratamento conservador, que consiste de repouso e analgésicos. Os resultados são melhores, e o tempo de recuperação é menor. Leve claudicação pode permanecer, pois o membro é encurtado pela remoção da cabeça e colo femorais (PIERMATTEI e FLO, 1999). No local, é formada uma pseudo-articulação, que é indolor e funcional.
Muitos animais respondem bem a esta cirurgia, especialmente gatos e cães de pequeno porte, contudo a taxa de sucesso é considerada menor em cães de porte grande, mas alguns respondem bem ao tratamento (FARESE, 2006).
Fisioterapia:
O paciente deve ser encorajado a usar o membro o máximo possível, isto ajuda na formação da pseudo-articulação e mantém a massa muscular e a amplitude de movimento. Cães com boa musculatura tendem a se recuperar mais facilmente, cães que estão acima do peso tendem a ter um resultado pior (FARESE, 2006).
- A crioterapia (tratamento pelo frio) geralmente é utilizada nas primeiras 72-96 horas, com o objetivo de diminuir a inflamação, o edema (líquidos) e consequentemente, a dor do animal no período pós operatório.
É feita através de massagens com gelo, ou bolsas térmicas. O tempo de aplicação não pode exceder 15 minutos. Pode ser feita de 3 a 4 vezes ao dia.
O gelo, e todas as outras técnicas, devem ser aplicadas por um médico veterinário ou sob sua orientação, pois há alguns cuidados a serem tomados, para não causar danos ao animal.
- O calor pode ser aplicado no membro após 72 horas da realização da cirurgia, do contrário pode aumentar a inflamação.
O calor incentiva o relaxamento de todas as estruturas periarticulares, músculos e tendões. Facilita o movimento entre os tecidos, sendo uma técnica adequada para o uso na recuperação, e cria boas condições para realizar técnicas passivas da fisioterapia, podendo ser benéfico se realizado antes ou durante a sessão de reabilitação. A aplicação do calor é indicada especialmente antes de exercícios e manipulações da fisioterapia (MILLIS, 2005; BOCKSTAHLER, 2006; GRUBB, 2006; SAWAYA, 2007).
O calor superficial é aplicado com bolsas térmicas ou garrafas pet com água aquecida, já o calor profundo, mais utilizado por ser mais eficaz, é conseguido pelo uso do ultrassom terapêutico no modo contínuo.
O ultrassom também pode ser utilizado no modo pulsado, que não aquece os tecidos, sendo indicado em lesões agudas, para controle de quadro inflamatório e reparo tecidual, cicatrização de feridas, aumento da massa óssea, consolidação óssea, hematomas, exudatos e edemas (GRECA et al, 1999; BROMILEY, 2000; BARBIERI e MONTE-RASO, 2007; LEVINE et al, 2008).
-Exercícios terapêuticos:
Quando os cães desenvolvem NACF e passam pelo procedimento cirúrgico, ou mesmo no período pré-operatório, os exercícios terapêuticos podem ser usados para ajudar a eliminar posições posturais compensatórias (como adução do membro devido ao tensionamento do músculo pectíneo), alongar a articulação coxofemoral e reconstruir a massa muscular, principalmente quadríceps, semitendinoso, semimembranoso e glúteos. Os exercícios podem incluir caminhada com coleira, subir ladeiras, escadas, exercícios de senta e levanta, alongamento dos músculos flexores e extensores do quadril e joelho, massagem, mobilização articular de todo o membro pélvico e terapia aquática (natação ou esteira aquática). Exercícios de levantamento de peso podem ser usados para realçar a propriocepção do membro afetado. Esses exercícios incluem ficar parado em superfícies macias, pranchas de equilíbrio ou bolas terapêuticas. Caminhadas com resistência através de elásticos tipo Thera-band® podem ser usados para fortalecer a musculatura do membro (MARCELLIN-LITTLE, 2004). O alongamento dos membros é fundamental, sendo importante para auxiliar o cão a voltar a apoiar a pata ao caminhar.
- O laser terapêutico tem propriedades benéficas, mas como os pacientes acometidos por NACF geralmente estão em fase de crescimento, o laser é pouco utilizado, por ser contra-indicado para epífises ósseas de cães em crescimento.
O laser estimula o metabolismo e a multiplicação celular, portanto apresenta potencial para acelerar o reparo tecidual e a multiplicação celular, sendo também analgésico e antiinflamatório (LEVINE et al, 2008).
- Eletroterapia:
O modo FES é usado quando o músculo está atrofiado ou hipotrofiado, produzindo uma contração muscular e auxiliando o retorno do membro à sua função normal.
O modo TENS é usado para analgesia, sendo muito utilizado em cães no período pós operatório de NACF.
Bibliografia:
BOCKSTAHLER, B. The orthopaedic patient: conservative treatment, physiotherapy and rehabilitation. In: Clinical Nutrition Symposium, 2006. Montreux.
BROMILEY, M.W. Physical therapy in equine veterinary medicine: useful or useless? In: Annual Convention of the AAEP, 2000. Proceedings of the Annual Convention of the AAEP, 2000. p. 94-7. Disponível em <http://www.ivis.org/proceedings/AAEP/2000/94.pdf> Acesso em 01/12/2008, 13:00.
ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C.
FARESE, J. P. Hip dysplasia: decision making. In: North American Veterinary Conference, 2006. Orlando.
GRECA, F.H.; et al. Efeitos do ultra-som terapêutico nas anastomoses colônicas. Estudo experimental em ratos. Acta Cirúrgica Brasileira, 14, 1999.
GRUBB, T. Non-Pharmacologic Pain Relief in Sporting Dogs. In: North American Veterinary Conference, 2006. Orlando. Proceedings of the North American Veterinary Conference Volume 20. Florida: North American Veterinary Conference, 2006. p. 1373-4.
LEVINE, D., et al.
SAWAYA, S. Physical and alternative therapies in the management of arthritic patients. Veterinary Focus, 17, 37-42, 2007.
YOTSUYANAGI, S.E.; et al. Legg-Calvé-Perthes disease: a retrospective study. In: 34th WSAVA, 2009. Proceedings of the 34th World Small Animal Veterinary Congress, 2009. São Paulo: World Small Animal Association, 2009. Manual de Ortopedia e Tratamento das Fraturas dos Pequenos Animais. 3ed. Barueri: Manole, 1999. Reabilitação e fisioterapia na prática de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2008.
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